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amor perfeito / contact


não saber
do teu olhar sobre as flores
sobre as cores e suas metáforas

não saber mais
de tuas músicas e dos teus dedos
contemporâneos

não saber de nada disso
e ainda assim ler teus sentidos

de longe

[Adrianna Coelho]


«contact»

.................... not knowing
.................... the dance of your fingers 
.................... over the keys, their touch

.................... not knowing yet
.................... about my sounds in your dreams
.................... and still weaving their colours

.................... without hesitation

.................... not knowing none of this
.................... and yet feeling you

.................... close

[Poem by Stéphane L.]

contexto



recita tuas águas
 e brasas
e te condenso

nos meandros
contornos e entremeios
te margeio

em teus vales
horizontes e montanhas
desaprumo

só em teus ventos
me refaço
 duna

 

risco



    arrisca em mim
    o que quebre
    o que grite

    o que desaninhe
    meu tigre e meu
        riso

    arranca o fôlego
        a raiz
            o juízo

    e deixa que o resto
        se precipite
   


legado



achei o jeito
de anoitecer os silêncios
 cheia de
    luas e lenhas

cais
naufrágios e dores

     teu esboço e tua
 ausência


fugidio



no meu percurso
também há a delicadeza
 de nuvens ilegíveis

 e onde meu desejo
se investiga

há lonjuras
          mãos
desvãos
           rubis

e o ar escasso
entre o não e um profundo
   sim


resgate



e no ponto mais fixo de mim
ele circulava felino
sem me deixar
a mais inútil alternativa
para fugir
e então dançávamos
no solo de uma música
telúrica
e nos entrelaçávamos
alucinados
até a memória fugaz
do momento
em que abri os olhos
e esqueci a poesia lá
onde ele permanece
sonhado



simples assim



eu queria uma palavra
apenas uma


e meus olhos te mostrariam
dois sóis


[um em cada pupila]


por trás do inevitável arco-íris
eu te daria um sorriso


só isso
e já me clareava o dia





* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2529

miragem



não sei se sou voo
ou vertigem


asa estrangeira sobre teus versos
avisto o mar imanente
e mergulho


esbarro no último ponto
de tuas reticências
e nem sei se te encontro



cálice

Para Adriana Sunyata


da nossa entrega cotidiana
àqueles deuses embriagados
e aos casulos de borboletas


às folhas que caíram
e aos raios de luz
na penumbra dos sonhos


às nossas intenções aladas
e a tudo que era aveludado
vermelho e sanguíneo
como mosto
ou como vinho


só me resta um vazio
num cálice cheio
de poesias caladas




* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2825

ânima



por uma brecha do meu sono
você sopra toda essa tinta
pra pintar na minha cara
insetos
átomos
cantos e contos
dos seus quintais
incalculáveis


tudo cabe na tela absoluta
e branca
tudo cabe
e outros tons insurgem


penso em você
parcialmente um
em todos os fragmentos reunidos
- unânime
e escrevo até o último segmento
cada passo dessa incerta dança






* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2772

falando de lírios e de mim



eu queria inventar outras palavras
outras flores outras selvas outras árvores
e subir nos seus pés
e preparar ninhos e leitos
no mistério impenetrável e verde
das folhas impregnadas de sol...


queria inventar outras espécies
de algas e de corais e outros mares
cheios de perigos e coloridos abissais
e coisas de afundar mesmo a cabeça e nadar
e beijar a pele com gosto de sal e de líquen
nos nossos corpos úmidos graves e líricos...


queria chegar até você com sonhos
e com histórias
com cantigas de roda
bobagens e cílios
cheia de manha e de manhãs
e papoulas e desalinhos
cheia de mim e de lírios...


queria chegar até você
reinventada em outros trens.



bumerangue




meus versos retornam
sem cerimônias
ou pássaros


nunca houve urgência
no amor


mas a certeza
de que um dia
ele pousará
em minhas mãos



kUBriCKiaNa



PEQUENO ESCLARECIMENTO

Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.


Mario Quintana




Poetas
não são laranjas nem nada!
[Palavras navegando em Mar
del Plata]

Desmecanizados, nos quantificamos

[qualificados] e escrevemos seguindo
a rota da poesia [e dos
silêncios].

Temos essa cosa

mucho loka
[dorada cosa]
que envolve a química
da sílaba beijando a língua
[da língua remoendo a boca]
dos dedos esfregando letras
dos ouvidos colorindo
mil tons [em mil sinos].

E de segunda a segundas intenções

dançamos ao som da nona
ou da quinta
ou de qualquer outra sinfonia
uníssonos

[como as feiras dos sábados e

domingos]

e nos disse QUINTANA

que nem somos azuis.




Adrianna Coelho e Marcelo Novaes

no campo mimado de um poeta elétrico



CAMPOS MIMADOS


poemas fora de
ardem
para Adrianna Coelho



* * *

pela tua poesia andei
agora pise com cuidado:
plantei para ti
campos
mimados.

* * *

o sol alpino
na cabeça
o frio nada valha.

* * *

nenhum verso
seguro.


solto:


palavras




explodem no ar!


* * *

o sol
laço
quando
sou só


luço.


* * *

quero terminar essa poesia tonta
mas dizer não é tão ruim
que quando me dou conta
estou perto do sim.

* * *

amor

o gavião cai
por águia
abaixo.




carito



Um poema de Georgio Rios

[Georgio Rios, inspirado no poema com os pés no chão]


Um pedaço de mim
é tudo


e em nada me dispersa
hei de dissipar as luzes
e novas luzes trazer
desta jornada.


hei de ficar
onde caminho encontrar
onde houver
tal caminho


aninharei meus pés
nas veredas
e nestas sendas
aquietarei em silêncio
escutando as águas
que vertem do mais
secreto caminho
da mais profunda vereda
e caminhando ouvir a música
dos olhos distantes



compondo sobre águas

[Paulo de Carvalho, sobre o poema okavango]


rio fêmea


quando fêmea;
águas e areias.


sou-te éden,
gênesis fruto.
o furto e
a fome


nomes de ti.


sacra ou profana, quem me sabe as sedes dos mares?
sei-te a carne, os sopros e teus verbos.


quando fêmea;
sou-te a folha,
papiro e tintas.


inversos de mim


oferto-me por areias aos êxodos de tuas águas;
consagro-me! aquela que te sabe os nomes nos sonos.


um poema de mim,
nomeia-te!






* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2581