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amor perfeito / contact


não saber
do teu olhar sobre as flores
sobre as cores e suas metáforas

não saber mais
de tuas músicas e dos teus dedos
contemporâneos

não saber de nada disso
e ainda assim ler teus sentidos

de longe

[Adrianna Coelho]


«contact»

.................... not knowing
.................... the dance of your fingers 
.................... over the keys, their touch

.................... not knowing yet
.................... about my sounds in your dreams
.................... and still weaving their colours

.................... without hesitation

.................... not knowing none of this
.................... and yet feeling you

.................... close

[Poem by Stéphane L.]

vitralidade




tuas cinzas
areia e sais
unidos à minha fragilidade 

improvável engano mesopotâmio
em meus imprevistos
vitrificados

nas tuas mãos de oleiro
meu corpo moldado
em complexos ruídos

presos em tuas tramas de cobre
meus reflexos
derretidos

e o momento inexato
em que me entornas
teu líquido

é aquele em que me acreditas
na impossibilidade
do vidro


espectro




aquelas noites não
nos deixaram
para trás
mas sozinhos

sem os silêncios
comuns às estrelas
e aos lírios

e com todas
as minhas cores
misturadas aos teus
litígios


perfil



na parede morta
minha natureza toda
sem assinatura

saturada de azul
de um quase nu
vinho
púrpura
magenta

e de teu sol oblíquo
a emoldurar meu rosto
respingado de tinta



reversos




meus tormentos ainda
persistem como peixes
   que sobem um rio

que não sabem dos
horizontes e da aflição
    nos portos

e não se importam
com o inaceitável sentido
   de todas  as dores

ou com a erosão
em  meus olhos embaçados
   de saudades

e no meio de tudo
continuo detenta
de cada uma de suas
   margens


fragmentos




esse olhar mudo
     de retrato

um muro branco de dentes
flagrado como se fosse
     um crime

o gesto despojado
de chaves e de noites
    sem eclipses

esse jeito de ser
tempestade
    e nenhum dique


          

átimo



e haverá um hiato
na minha existência
onde me terás
exausta
e suspensa
na plenitude breve
do êxtase



vertigem



a ausência da rosa na boca
o silêncio alarmado
de quem sabe espinhos
e idas e beijos
e quases
e esses vermelhos
que te inflamam
toda
de abismos
e quedas




* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2729