Mostrando postagens com marcador Marcelo Novaes. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Marcelo Novaes. Mostrar todas as postagens

kUBriCKiaNa



PEQUENO ESCLARECIMENTO

Os poetas não são azuis nem nada, como pensam alguns supersticiosos, nem sujeitos a ataques súbitos de levitação. O de que eles mais gostam é estar em silêncio - um silêncio que subjaz a quaisquer escapes motorísticos e declamatórios. Um silêncio... Este impoluível silêncio em que escrevo e em que tu me lês.


Mario Quintana




Poetas
não são laranjas nem nada!
[Palavras navegando em Mar
del Plata]

Desmecanizados, nos quantificamos

[qualificados] e escrevemos seguindo
a rota da poesia [e dos
silêncios].

Temos essa cosa

mucho loka
[dorada cosa]
que envolve a química
da sílaba beijando a língua
[da língua remoendo a boca]
dos dedos esfregando letras
dos ouvidos colorindo
mil tons [em mil sinos].

E de segunda a segundas intenções

dançamos ao som da nona
ou da quinta
ou de qualquer outra sinfonia
uníssonos

[como as feiras dos sábados e

domingos]

e nos disse QUINTANA

que nem somos azuis.




Adrianna Coelho e Marcelo Novaes

olé



Ângulos vermelhos



Ângulos vermelhos
destacam o solo
flamenco do
violão,


o timbre do
flamenco.


E a bailarina está de
costas, a espanhola
ouvindo os arpejos.


Lá fora, voam os

passarinhos, em

ângulo

reto.



Marcelo Novaes






gitana



meus passos não te serão

leves

nem meus saltos


nem mesmo quando levito,

ou ergo as mãos, danço e canto

sem acompanhamento


pelo ângulo certo, porém,

verás meu coração nos abetos,

os pássaros rasgarem azuis

e amanhecerem os meus beijos

vermelhos




Adrianna Coelho




Olhos como mel

[Marcelo Novaes]


Você não sabia que esses olhos
eram meus, eram claros, eram mel.
Nem que a voz soava violoncelo,
próximo ao Natal.


E que eu deixaria seu corpo doído
por uma semana, na única noite de cio
passada no chão.


Você não sabia que, no meu quarto,
a luz tremeluzia. E que meu respirar
comportava tal silêncio: desses que só
pode dar água corrente, o sol nascente,
uma manhã no Chile.


Você não sabia que cabia no existir
tal densidade: bem maior que o tônus
muscular colado aos ossos. Por você
tudo apalpado. E nem conhecia o amor
que era canto e língua procurando cada
canto e tudo que os outros haviam deixado
intacto. Amar amor gentil, antes e depois do
ato.


Você não sabia o outro nome, pelo qual
te chamaria, com insistência, a certa altura:
nome lindo de se colocar aqui agora. Aquele
que um dia - intuo muito bem porque -, você
enterrara. Mas eu te sei nome e sobrenome,
também lá e então, e desde sempre. E saberei
cem jeitos diferentes de te chamar, Adrianna.




* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2558

o gesto dele



A faca não corta o fogo; mas arrisca
Para Adrianna Coelho


Cortemos apenas um gesto:
a mão perfeita, por demais
perfeita. Cortemos o
atrevimento de se ser
perfeito; o mais,
deixemos quieto.


Cortemos as quimeras
as tessituras por demais
simétricas, os contextos
e sólidas estruturas, e
deixemos o andar manco
o verso manco e branco,
o olhar reverso o breu e o
branco, quando se dão no
palco.


Cortemos apenas um gesto
com faca afiada: a frase de
fogo em sublime metamorfose,
a frase que não se apaga nem na
neve; a metamorfrase na porta do
templo - de Zeus, de Hera -, que
também é
nave.




Marcelo Novaes