[Paulo de Carvalho, sobre o poema okavango]
rio fêmea
quando fêmea;
águas e areias.
sou-te éden,
gênesis fruto.
o furto e
a fome
nomes de ti.
sacra ou profana, quem me sabe as sedes dos mares?
sei-te a carne, os sopros e teus verbos.
quando fêmea;
sou-te a folha,
papiro e tintas.
inversos de mim
oferto-me por areias aos êxodos de tuas águas;
consagro-me! aquela que te sabe os nomes nos sonos.
um poema de mim,
nomeia-te!
* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2581
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sem ressalvas
eu não sabia que meu cabelo era agreste
e que refletiríamos em nossas íris
um ao outro – sobre o carpete –
e as cores dos crepúsculos
e das auroras...
nem sabia que poderia ter por horas
essa dança de águas nos olhos,
e esse sorriso na memória dos músculos
que me douraram a pele em nossa trança
de salivas e de silêncios...
e que me tornaria
ao mesmo tempo leve e densa,
com você profundamente dentro,
[em presença e ausência]
inteiro, unânime e múltiplo.
* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2558
hidrológica
cuido por tanto
tempo desse dique
em meu corpo
e os olhos drenam
toda essa água
salgada e revolta
a dor é que não
se esgota
* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2657
okavango
tudo em meu poema
desce montanhas
com sede de sol e de sal
e corre líquido sonhando
com a invasão ocre
do encontro pelo rio
tudo em meu poema
alaga e depois seca
em minha floresta
de papiros
enquanto escrevo
sobre meus desertos
e minhas águas
* Diálogo de Paulo de Carvalho com o poema Compondo sobre águas
* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2581
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