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recíproca


de repente assustam-me
os teus destroços abandonados
à superfície dos meus olhos
rasos de água


vitralidade




tuas cinzas
areia e sais
unidos à minha fragilidade 

improvável engano mesopotâmio
em meus imprevistos
vitrificados

nas tuas mãos de oleiro
meu corpo moldado
em complexos ruídos

presos em tuas tramas de cobre
meus reflexos
derretidos

e o momento inexato
em que me entornas
teu líquido

é aquele em que me acreditas
na impossibilidade
do vidro


ocaso



ainda ouço
tuas conversas com
sombras e brumas

teus restos
de noites e teus dons
para abismos
em minhas comoções
 telúricas

teus silêncios ancorando
meus vazios e a
tua falta

ainda te espero
naquele cais que nos invade
a alma


reversos




meus tormentos ainda
persistem como peixes
   que sobem um rio

que não sabem dos
horizontes e da aflição
    nos portos

e não se importam
com o inaceitável sentido
   de todas  as dores

ou com a erosão
em  meus olhos embaçados
   de saudades

e no meio de tudo
continuo detenta
de cada uma de suas
   margens


legado



achei o jeito
de anoitecer os silêncios
 cheia de
    luas e lenhas

cais
naufrágios e dores

     teu esboço e tua
 ausência


cálice

Para Adriana Sunyata


da nossa entrega cotidiana
àqueles deuses embriagados
e aos casulos de borboletas


às folhas que caíram
e aos raios de luz
na penumbra dos sonhos


às nossas intenções aladas
e a tudo que era aveludado
vermelho e sanguíneo
como mosto
ou como vinho


só me resta um vazio
num cálice cheio
de poesias caladas




* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2825