síndrome
dentro de cada poema
tenho sintomas
medos e arremessos
coragens e tremores
um riso e um choro
que me arranham
ou anestesiam
e a palavra suada
que me dilata as pupilas
sinapse
desde então a palavra
percorre minha medula
e se ramifica em versos
e signos
revelo meus impulsos
e caligrafias distantes
atravessam meus abismos
[um poema me arrepia]
mar aberto
tenho um poema
com a iminência dos oceanos
a ânsia de infinitos
e a latitude dos sonhos
um poema de marés convulsas
sal e naufrágios
desejando a hora
de aportar em teu farol
o toque
você gira o dial
e muda a estação
mas sua voz rouca
ainda roça
minha nuca urbana
e seus verbos me acendem
intimamente
oscilo entre umidades
embriaguez e danças
onde você me toca
e é indelével
ostrapoesia
ela se abriu
e aconteceu ali mesmo
com areia e tudo
e aconteceu ali mesmo
com areia e tudo
poema ao ocaso
sem tapetes
nem preces
resistem meus propósitos
uma dança pacífica
sobre a areia dos meus olhos
e essa vontade crescente
e incontida
de contemplar-te
não sei a direção
que o sentido das minhas palavras
segue
não sei se elas
se dissipam com o vento
ou te alcançam
e sopram em teus lábios
me orienta
a pêlo
mimetizo nossa trama
de desejos e cantos
e danço sobre você
para restituir-me
ao vinho e ao toque
aos apelos da pele
das bocas e pernas
até alcançar em pêlo
o silêncio da queda
desiderato
tenho a urgência dos incêndios
em meus poemas
amo os versos que não posso
e ardem
em meus poemas
amo os versos que não posso
e ardem
* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2466
apreço
tem sido um esforço caro
libertar a poesia:
da minha própria essência
torno-me cativa
libertar a poesia:
da minha própria essência
torno-me cativa
* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2481
sensação
num poema
abrem-se em mim
todas as ânsias
como se fossem asas
batendo alucinadamente
dentro do meu peito
ca-picture-me
para Moacy Cirne
quadro a quadro
com o pincel
compenetrado
me pinta
e transborda
a tinta
em minhas curvas
e minhas linhas
e no meio
me revista
quadro a quadro
com o pincel
compenetrado
me pinta
e transborda
a tinta
em minhas curvas
e minhas linhas
e no meio
me revista
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