onírico



era um homem com asas que tinha esses cachos
na cabeça que as borboletas gostam e uns silêncios
feitos de trevos e feitiços e um cheiro de anis
com hortelã e baunilha e era ele quem penetrava
em meus sonhos com flautas e gaitas e saxofones
e me deitava em tapetes mágicos orientando meus sentidos


e me envolvia num latente surrealismo com alecrim
e mormaços e incensos numa mistura orgânica de dunas
e cataventos e caçava minhas palavras em açudes e salinas
com o corpo agridoce ou melado e com sua boca que tinha
contato com a cana e me fazia magenta e absurdamente
doce quando mesclava meu vestido vermelho
com algum verde de grama


à sombra de um impressionismo me revelava entre algumas
folhas de parreira e me falava de camas e taturanas e pimentas
e caquis e chocolates e mangas e outras coisas ordinárias
que eu imaginava em paraisos lúdicos cheios de deuses escarlates
e vagabundos enquanto ele refletia de improviso a minh’alma
misturada ao barro e ao fogo debaixo de um toró repentino


e aquilo nos fazia rir com um lirismo próximo à loucura
de comer certas flores exóticas e de fazer outros rituais
para os instantes que nos habitavam os precipícios
preferidos e no ponto mais fixo de mim ele circulava felino
sem me deixar a mais inútil alternativa para fugir


e então dançávamos no solo de uma música telúrica
e nos entrelaçávamos alucinados até a memória fugaz
do momento em que abri os olhos e esqueci a poesia
lá onde ele permanece sonhado



12 comentários:

Moacy Cirne disse...

textopaixão&erotismo:
um sonho telúrico
que se faz poesia
"à sombra de um impressionismo"
entre caquis e chocolates.
beleza pura.

um beijo.

Anônimo disse...

pav:
você deu uma guinada.muito bom.
romério

Lou Vilela disse...

Um linha tênue os separa - Sonho e realidade. :)

Minha cara, indiquei seu blog ao Prêmio Dardos. É só seguir as instruções de acordo com as informações que deixei em minha página.

Abraços,
Lou Vilela

Cosmunicando disse...

pav, a gente lê e mergulha de cabeça... não há como evitar a vertigem, não há como escapar das imagens e cores, do lirismo, e da dança cúmplice e telúrica.
Isso ficou simplesmente maravilhoso e lisergicamente feminino.
beijos

Unknown disse...

Este "Onírico", faz um pleonasmo lírico e lindo com os sonhos doces e perfumados da mulher.

Lindíssimo !!!

Um forte abraço

Mirze

Jhonny Russel disse...

Delicada flor que rege o vento com palavras.

Maykson Cardoso disse...

o Moacyr já o disse... é erótico... teluricamente erótico. eu fico imaginando isso declamado em tom de quase prece. Me arrepio! Lindo demais, Pav.!

Ava disse...

Tenho descoberto espaços deliciosos...
E o seu é um deles...
Aqui cheguei movida pela curiosidade.. . e adorei tudo que encontrei!
Textos e poemas maravilhosamente belos!


Beijos avassaladores!

Henrique disse...

[O grito] mas feito poe um travesti!

Anônimo disse...

Gosto desta mescla...fiquei entre sândalo num nirvana. Inventado por ti. o aroma de hortelã e baunilha...deve ser altamente mortal. Quero dizer fatal. Afrodisiacamente falando.
Obrigado por partilhares o texto.

Marcelo Novaes disse...

Um sonho à sombra impressionista-surrealista. Bem embalado.




Beijos,





Marcelo.

LM,paris disse...

adrianna,
adorei e fascinou-me com estas metamorfoses fraseadas.
Vim pela mao-lingua do miguel, ns suas assimetrias, os cabelos caidos sao os meus, felizmente crescem sozinhos...nao ligo.
Linda a poesia que escreve, vai por dentro mesmo,
visualizando as suas imagens fortes e os frutos sao doces e amargos...passe por minhas casas bloguianas...
www.autre-cas.blogspot.com
bravo , je vais revenir vite!
um abraço de paris,
lidia LM

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