somos a bomba (anti-acordo ortográfico)



em idéias teias grassas
nossas palavras arranham aranhas
da língua em estado
de sítio sem árvores
e nos arvoramos pelas raízes
inquietos até tirarmos o chapéu
de aba e poros imaginários
dos homens que comem letras sem sumo
sem cheiro e com sabor artificial


queremos a língua solta
na maior brasilidade de um samba
de fundo de quintal e clementinas
em pagodes de zecas subindo morros
e o fonema pleno e salgado
da brincriação rebelde e desestruturante


provocamos o colapso dos lapsos arcaicos
para que se quebrem os elos que aprisionam
a expressão em anéis
sem os dedos que procuram sentidos
no inexplorado...


[a estética contraditória e misteriosa
a revolução dos neologismos em outros passos]


e nós, os 3 do forte
de uma copacabana estendida por mim
além da baía e de outros horizontes
vamos desafiar todos os erros
para sermos como falamos e somos:
explosivos brasileiros






* "os 3 do forte" é uma referência à Revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Os 3: eu, Fernando Cisco Zappa, o poetaço que acredita na luta com as palavras, e Rodrigo M. Freire, o rebelde por natureza, mas grande, grande, grande escritor.

18 comentários:

Rodrigo M. Freire disse...

belo movimento conservador. talvez eu seja a favor da conservação, mesmo em que mudar seja preciso para mantê-la.

se não fosse esse talvez feito gato, me tropeçando as pernas.

Georgio Rios disse...

Olá amiga, sem eira nem beira deixo aqui meu apoio ao movimento linguistico-poético, tão bem elaborado em poema...Um abraço fraterno de Georgio Rios

Marcelo Novaes disse...

Pavitra, querida...


Que idéias tão bem alastradas, das quais procuram - esses três tais - as tais raízes, deixando os ramos pra depois... E que cuidado com a melodia - não só de zecas e clementinas -, onde um "chapéu" faz acorde toante com "artificial"..., um pouco àdiante.
Onde a métrica formal é eclipsada pela cadência impressa por sílabas e pausas....[essa a melhor métrica].

Então, além de manifesto poético-linguístico, é manifesto-musical, expresso em alargado gesto... Grasso e gordo. Desses que ocupa bom lugar no espaço.





Beijos,





Marcelo.

Moacy Cirne disse...

De acordo. Plenamente de acordo. Mudar é preciso? Mas, aos poucos, procuro me adaptar. Estou sendo contraditório? Um viva para as contradições. Beijos.

Anônimo disse...

pav:
gostei da bomba.
romério

Unknown disse...

Ah que sou explosivo mesmo!! E digo:
Desconheço a lei que vai me botar na cadeia se, ansiando expressar a cola da língua na cavidade mais bela da boca, escrever o trema, rs.

Bjs e protestadas invenções!

Yara Souza disse...

Linda brincriação rebelde!
Porque boas idéias devem ser acentuadas!

Maykson Cardoso disse...

Eu tô de acordo... OU, desacordo! hahahaha :-) Lindo poema... embalante! :-P

Bruna Mitrano disse...

E quem diz como devemos escrever?

A professora carrancuda manda hoje o guri esquecer tudo que até ontem foi: é "linguiça" sem dois pontinhos, é "pelo" de pele sem chapéuzinho. Ela que ainda está tentando explicar quem são "tu e vós" e que "você" não existe.

Conservam tanta coisa há muito em desuso e mudam aquilo que não incomoda ninguém. Não entendo.

Amei o poema. 3 + 1

Hercília Fernandes disse...

Oi Pavitra, gostei desta Explosão Poética à moda de [três] violas.

Também desejo "a revolução dos neologismos em outros passos".

Parabéns ao grupo. Adorei!

Beijos,
Hercília F.

Anônimo disse...

A generosidade do Moacy, ao publicar meus textos, sempre me rende bons frutos. Como agora, ao me proporcionar o encontro com uma Poeta de raro talento.
Vou me demorar por aqui e retornar sempre.
Obrigado por sua visita e pela generosidade do comentário.
Um beijo afetuoso.

Lou Vilela disse...

E de repente, constatei que não sabia mais escrever... rs No meio de uma tentativa de "estrangulamento" (precisava dar um jeito na minha resistência às mudanças), leio a "bomba"! rs Parabéns pelo poema e pela iniciativa. Bjão

Cosmunicando disse...

adorei reler! atualíssimo!!
e vou boicotar a norma, aliás todas elas =))
beijos!

Marina disse...

musical! como nosso brasil falado e cadenciado por tantos acentos.

gostei de chegar aqui e encontrar esse anti-acordo. :)

um beijo, querida pavitra!

Leandro Jardim disse...

quanto ao meu presente, muito obrigado, o adorei, e essa sua explicação quanto a etimologia do meu nome também veio a calhar melhorando meu entendimento (o tonto aqui não havia percebido isso... shame on me). obrigado!

***

quanto ao poema, interessante, gostei dessa intensificada no seu estilo que a revolta provocou... hehe...

****

quando ouvi pela primeira vez sobre o acordo ortográfico, redigi esse trocadilho que acho que vem ao caso:
"Que tirem o acento de idéia, escreverei poemas e canções de pé!"

***

agora um projeto de opinião: pessoalmente, há coisas me incomodando nesse acordo, mas estou olhando um tanto resignado e me questionando se não é mera questão de apego.

Gosto do português que eu uso, mas o que o Pessoa usou era diferente... e também era diferente o dos nossos ícones do modernismo brasileiro, da época de meus avós vivos... então, sei lá, sabe :) hehe filosófico... :P

***

beiJardins

Josely Bittencourt disse...

uau, quanto timbre, q suportem os estilhaços!


Pavitra, o blog tá um luxo! rs


beijoca

Henrique disse...

AI MEU CORAÇÃO!!!

Digno de exemplo em livro de literatura e filosofia!

Unknown disse...

Aplausos!!!!

Apoio o texto, a idéia, se for preciso organizo passeata!

Belíssima e oportuna postagem, enriquecida pela lembrança de Francisco Zappa.

Parabéns, Pavitra!!

Beijos

Mirze

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