a janela improvável



um homem está na janela
e ele que não ocupa nenhum lugar
vem sendo reconhecido pela ausência
e pelo grito encerrado na boca
com cheiro de menta
– numa improvável janela
que o emperra...

a inexistente janela sem horizontes
se cansa de sustentar cotovelos
e passados
do homem anestesiado
– numa improvável janela
sem pássaros...

o homem não abre mais a janela
nem abre os braços
não ergue os punhos nem levanta a voz
e depois de cheirar gás carbônico
dorme e não sonha
– nem com a improvável janela
sem amanhãs...



13 comentários:

Anônimo disse...

"cansa de sustentar cotovelos"

e ele que não ocupa nenhum lugar

Deixa apenas este vácuo sentido... silêncio de um hiato reconhecido no que se ausenta.
A menta de um grito emperrado – onde pousariam as janelas?

A segunda estrofe é deveras significativa. Instigante!
Remete-me as disputas entre o ser e o não-ser, no verso onde se inexistente janela ela primeiro é para que seja trazida, e ao mesmo tempo não é para sua inexistência. E é sustento dos não deste homem anestesiado e sem pássaros.

- numa improvável janela

O desfecho é sufocante, não tão somente pelo gás, mas fundamentalmente, pelo sem amanhãs...

Existir/inexistir - o homem não abre mais a janela

Beijos, Pav.

Paulo de Carvalho

rua do mundo disse...

Ol� Pav
S� agora que abri meu blog que li seu coment�rio, ando sumida, desculpe-me
Quanto ao teu texto...maravilhoso!
Ah! Voc� encontrou um recadinho no multiply que te deixei?
Beijos e obrigada pela visita, apare�a sempre!
F�tima

Átila Siqueira. disse...

Obrigado pelas visitas, e fico feliz que tenha gostado dos meus textos.

Coloquei um link para o seu blog lá no meu, e agora sempre vou fazer questão de te visitar.

Abraços,
Átila Siqueira.

Átila Siqueira. disse...

Sua poesia tem aquele toque pós-moderno que eu adoro. Parece as poesias da geração mimiografo. Fala da nostalgia, da falta de esperança do mundo moderno, da crise de identidade, do fim das utopias, da depressão e da solidão que nos assola como uma doença. A doença de nosso século. O mal desse século.

Adorei.

Um abraço,
Átila Siqueira.

Cosmunicando disse...

e o parapeito inútil pára o peito
do homem anestesiado
– numa improvável janela
sem pássaros...


Pav, adorei esse poema que não cala no peito a insanidade da anestesia

beijos!

Anônimo disse...

hum, triste na desesperança dos "não amanhãs", mas belo. O vazio tem sonhos mortos ou cadáveres de sonhos de homens que um dia sonharam sonhos vivos e as janelas, por mais desesperançados andem os homens, são sempre aberturas pra novas ideias onde podem germinar sonhos

Anônimo disse...

Meu, que coisa!!! Visualizei tudinho!!!

P.S. - E ainda conta com a análise riquíssima do amigo Paulo de Carvalho. Surreal!

Anônimo disse...

Pode parecer insano, mas eu visualizei tudo sim...

Não sei ao certo porque mas recordei-me de um quadro de Magritte...

Anônimo disse...

"obrigada por essas palavras"

ao prazer do bom diálogo.
assim como fez com meu comentário e tríptica resposta.

beijos, Pav.

Anônimo disse...

Pois é. Costumam chamar aos que constatam este caos, esta perda de sentido, este total equívoco de "pessimistas", como se ler a realidade e enxergá-la tal como é não fosse obra de uma visão privilegiada, lúcida.

A perda de sentido é matéria atual para muita poesia...

Não se deixe entorpecer pelo engano dos sentidos, Pav.
Beijos.

Anônimo disse...

Pav, compreendo o que colocas porque sinto exatamente o mesmo. Não a chamarei de louca, pelo contrário, chamo-te sensata, lúcida e corajosa por trazer ideais e assumir para si um compromisso com a vida que as pessoas não têm.

Grande beijo, sensatez personificada.
Bom saber mais de ti através dos posts.

Lualves disse...

"o homem não abre mais a janela
nem abre os braços
não ergue os punhos nem levanta a voz
e depois de cheirar gás carbônico
dorme e não sonha
– nem com a improvável janela
sem amanhãs..."

Pav,

Que belo o seu poema! Equilibrado. A forma com que ele vai se desenvolvendo, agregando sentimentos, construindo o desfacho. Bem cadenciado, bem estruturado, sem prejuizo da emoçao, que aflora com força e consistencia nos versos que destaquei acima. Bom o poema quando nos deixa com uma angustia no peito e nos faz refletir. E isso... Mandou bem!

Marcelo Novaes disse...

Dri,


Bom este enredo surrealista ( ultra-realista) pra fazer um contraponto à sua voz lírica ( que tem muito de meta-linguagem e meta-crítica e meta-análise), sem perder a música...

"o parapeito inútil pára o peito
do homem anestesiado
– numa improvável janela
sem pássaros..."





Beijos,






Marcelo.

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