sob a chuva meus olhos
revelam a luz nas cores
das horas lúcidas
reflexos de deuses estrondosos
em minhas memórias
livres de marquises
meus pés dissipam o asfalto
e a nostalgia ressurge
ríspida e imprevista
em incessantes fluxos
na paisagem úmida
improvisada
a vida vaza nas esquinas
de um cruzamento abstrato
constantemente renovado
pelas águas que correm
junto ao meio fio da lâmina
das minhas palavras
e de nossos atos
e nesse ar concreto
onde me encontro
tudo sufoca
tudo é ralo
há dramas contidos no meu corpo
derramado e exposto
na calçada
Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2802.