compondo sobre águas

[Paulo de Carvalho, sobre o poema okavango]


rio fêmea


quando fêmea;
águas e areias.


sou-te éden,
gênesis fruto.
o furto e
a fome


nomes de ti.


sacra ou profana, quem me sabe as sedes dos mares?
sei-te a carne, os sopros e teus verbos.


quando fêmea;
sou-te a folha,
papiro e tintas.


inversos de mim


oferto-me por areias aos êxodos de tuas águas;
consagro-me! aquela que te sabe os nomes nos sonos.


um poema de mim,
nomeia-te!






* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2581