Um poema de Georgio Rios

[Georgio Rios, inspirado no poema com os pés no chão]


Um pedaço de mim
é tudo


e em nada me dispersa
hei de dissipar as luzes
e novas luzes trazer
desta jornada.


hei de ficar
onde caminho encontrar
onde houver
tal caminho


aninharei meus pés
nas veredas
e nestas sendas
aquietarei em silêncio
escutando as águas
que vertem do mais
secreto caminho
da mais profunda vereda
e caminhando ouvir a música
dos olhos distantes



compondo sobre águas

[Paulo de Carvalho, sobre o poema okavango]


rio fêmea


quando fêmea;
águas e areias.


sou-te éden,
gênesis fruto.
o furto e
a fome


nomes de ti.


sacra ou profana, quem me sabe as sedes dos mares?
sei-te a carne, os sopros e teus verbos.


quando fêmea;
sou-te a folha,
papiro e tintas.


inversos de mim


oferto-me por areias aos êxodos de tuas águas;
consagro-me! aquela que te sabe os nomes nos sonos.


um poema de mim,
nomeia-te!






* Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2581

com os pés no chão



ando descalça pela tua casa
e atravesso os cômodos
sem as pontes que costuram
todos os caminhos


o chão, passivo, ninho
feito de referências e almofadas,
recolhe meu sono em travesseiro de penas
e abre teu peito ferido sobre minhas pernas


e as mãos deslizam sobre o tapete,
as faces, os corpos e as lágrimas


e os olhos que silenciam
interferem como lâminas


e ao chão, passiva, cheia
de interferências e joelhos
e rodapés e dores em todos os cantos,
entrego-me inteira no piso do banheiro


e meus sapatos, amor,
ficaram do lado de fora,
junto com o meu passado:
agora meus passos são outros
e ando descalça pela tua casa.





* Georgio Rios fez um lindo poema para mim
* Publicado na Diversos Afins - Revista Cultural Eletrônica