sizígia



o céu insiste
nessas cores de maçã
mordida
depois me anoitece
e me despe das luas
em três de minhas
fases


do meu olhar tardio
cheias e vazantes
se derramam
como preces



renascença



sob a chuva meus olhos
revelam a luz nas cores
das horas lúcidas

reflexos de deuses estrondosos
em minhas memórias

livres de marquises
meus pés dissipam o asfalto
e a nostalgia ressurge
ríspida e imprevista
em incessantes fluxos
na paisagem úmida

improvisada

a vida vaza nas esquinas
de um cruzamento abstrato
constantemente renovado
pelas águas que correm
junto ao meio fio da lâmina
das minhas palavras
e de nossos atos

e nesse ar concreto
onde me encontro
tudo sufoca
tudo é ralo

há dramas contidos no meu corpo
derramado e exposto
na calçada




Publicado no Balaio Porreta 1986 nº 2802.