síndrome



dentro de cada poema
tenho sintomas
medos e arremessos
coragens e tremores
um riso e um choro
que me arranham
ou anestesiam
e a palavra suada
que me dilata as pupilas



sinapse



desde então a palavra
percorre minha medula
e se ramifica em versos
e signos


revelo meus impulsos
e caligrafias distantes
atravessam meus abismos


[um poema me arrepia]



mar aberto



tenho um poema
com a iminência dos oceanos
a ânsia de infinitos
e a latitude dos sonhos


um poema de marés convulsas
sal e naufrágios
desejando a hora
de aportar em teu farol



o toque



você gira o dial
e muda a estação
mas sua voz rouca
ainda roça
minha nuca urbana
e seus verbos me acendem
intimamente


oscilo entre umidades
embriaguez e danças
onde você me toca
e é indelével



poema ao ocaso



sem tapetes
nem preces
resistem meus propósitos
uma dança pacífica
sobre a areia dos meus olhos
e essa vontade crescente
e incontida
de contemplar-te


não sei a direção
que o sentido das minhas palavras
segue


não sei se elas
se dissipam com o vento
ou te alcançam
e sopram em teus lábios


me orienta



a pêlo



mimetizo nossa trama
de desejos e cantos
e danço sobre você
para restituir-me
ao vinho e ao toque
aos apelos da pele
das bocas e pernas
até alcançar em pêlo
o silêncio da queda



sensação



num poema
abrem-se em mim
todas as ânsias
como se fossem asas
batendo alucinadamente
dentro do meu peito



ca-picture-me

para Moacy Cirne


quadro a quadro
com o pincel
compenetrado
me pinta
e transborda
a tinta
em minhas curvas
e minhas linhas
e no meio
me revista